Sorrisos demais, abraços demais,
alegria demais, apertos de mão demais. Tudo que é demais é falso ou faz mal.
Mas o faz mal vamos deixar de lado. Isso é tudo discurso de falso moralista que
quer, quer, quer, quer e quer. Por que quem é, não quer. Isso mesmo! A
felicidade não faz questão de ser estrela, ela tem muito mais importância que
isso. O amor não veio até aqui para aparecer, ele é bem mais do que provas. A
amizade não gosta de ser confundida, ela prefere ser sentida. Ninguém consegue
ser alegre o tempo inteiro, não é mesmo, Wander Wildner? O queridinho dos
gaúchos estava certíssimo em sua colocação.
Sempre odiei pessoas muito
felizes, muito queridas, muito simpáticas. Esse povo que não se desmonta por
nada, sabe? Aí, treinando a minha imparcialidade, resolvei mudar de lado e
tentar, pelo menos, pensar da maneira que essa gente linda, querida, simpática,
que tem muitos amigos e ama o mundo, pensa. “Ou eu sou muito má, ou tem alguma
coisa errada”. Era o que me ocorria sempre que encontrava pessoas assim.
Pensava que podia ser má, porque não acreditava nessa vida linda. Para mim,
isso era utopia. Aliás, continua sendo. Cheguei até a pensar que eu era total desequilibrada,
temperamental e bipolar, e que isso era ruim. Enfim, me sentia mal por não
gostar de gente muito legal. Para mim, ou era falsidade ou era falsidade.
Até que um dia, tive uma ideia
muito idiota: passar o dia todo achando tudo lindo, tudo legal, amando as
pessoas e o mundo, e pensando que minha vida era perfeita. O resultado? Fiquei
com nojo de mim por que passei o dia me enganando e enganando as pessoas. Não vivi naquele dia, apenas estava ali fazendo algo para alguém, bem assim, abstrato. Me senti um boneco. Isso, boneco é a
palavra! Um boneco falante e sem vida. Ninguém vive na ilha da fantasia. E quem pensa que vive, é frustrado ou está precisando de uma visita da humildade e de um choque da realidade. Acorda
Brasil!
Ninguém é feliz o tempo inteiro.
Ninguém ama todo mundo. Ninguém tem um milhão de amigos ou um milhão de irmãos.
Ninguém sabe tudo. Ninguém lê a todo o tempo. E se existe alguém assim, deve
ser de outro planeta, porque humano que é humano sofre, chora, tem medo, cai e,
o mais importante, sente. E quem sente de verdade, não tem tempo nem coragem de
divulgar. Não se preocupe, você não precisa provar nada para ninguém. Você só
tem que provar que não precisa provar nada para ninguém. Compreendeu Renato
Russo agora? E nesse mundo tão individualista, ninguém está esperando nada de você
nem cobrando que seja corajoso, inteligente, feliz, amigo, simpático e lindo o
tempo inteiro. Até porque as pessoas tem mais o que fazer, sendo total
realista. Se permita desmontar e sentir. Mas sentir por você, não pelos outros.
Viva de maneira natural: só assim você vai transparecer o que realmente quer. Espontaneidade
é a palavra, baby!